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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

COR, PROTAGONISTA DA TELA

“Nunca Pinto quadros. Tento fazer pinturas”, Antônio Bandeira.
Antônio Bandeira é um dos poucos artistas cearenses que tem suas obras expostas nos principais museus do mundo. O reconhecimento da crítica internacional por seu talento fez com que fosse respeitado e admirado entre os conterrâneos, principalmente intelectuais, políticos e apreciadores das artes plásticas, da década de 40 aos dias atuais. Levou para Paris, onde estudou e viveu os últimos dias de vida, o melhor da “terra do sol”: as cores e as lembranças da infância entre árvores, flores, nuvens, redes de dormir, ruas. Enfim, a natureza áspera da Região Nordeste tão encravada em sua existência.
Para que esse trabalho não se perca entre a biografia, as diversas fases e obras de Antônio Bandeira, a tela Árvores em Azul (1956) foi escolhida para ser contextualizada, levando-se em consideração as influências, os sentimentos e o momento histórico que foi pintada. Ela ajudará a desvendar um pouco o universo sensível e abstrato do artista que soube usar os pincéis a seu favor, retratando com contemporaneidade toda uma época - uma leitura plástica que ia além do realismo. Essa tela que atravessou os tempos pertence a um território infinito das emoções com uma harmoniosa visão lírica do mundo.
Preto, branco, vermelho, verde estão presentes no trabalho Árvores em Azul sob o azul de um céu onde convergem essas e outras cores de sua eleição. A multicolorida paisagem pode ser interpretada pelos tons dos cactos, mares do Ceará e flamboyants. Essas linhas coloridas parecem emergir do caos onde a simetria dos traços organiza a informalidade. Para o inventor da psicanálise, Sigmund Freud, a explicação para isso estaria na infância do autor. Quando criança, Antônio Bandeira brincava em torno de árvores frondosas e na fundição de seu pai onde aprendeu misturar os tons das cores vendo ferro e bronze serem derretidos.
Uma linha, uma geometria, um desenho. Inspiração e transpiração dosadas de poesia e equilíbrio físico e mental. Árvores em Azul reflete a completa cisão com a tradição figurativa imposta por um sistema ditatorial. Para Antônio Bandeira, a pintura é um estado de alma que extroverte os sentidos, sem outro objetivo que o de comunicar um sentimento, uma emoção, uma lembrança. Com cores fortes, mostra o descontentamento, a urgência de uma expressão livre e de uma identidade nacional. Em alguns instantes, assemelha-se às telas de Van Gogh e Paul Klee, mas com estilo próprio. Estilo que pode ser denominado de orgânico, lógico e matemático com invenções e inovações de imagens e símbolos estupendamente delineados. O rígido naturalismo dá espaço a hieróglifos intricados e enigmas formais.
Segundo sua biografia, Antônio Bandeira insere-se entre o núcleo central do grupo que impulsionaria o abstracionismo informal, ou lírico, na Europa, encabeçados por Wolf (fotógrafo e pintor alemão) e Camille Bryen (poeta e pintor francês). Formando-se no marco das novas experimentações estéticas impulsionadas pela Escola de Paris e toda a tradição modernista pregressa. Entretanto, o próprio artista não se via como um abstracionista. Considerava-se um “impressionista novo”. Ao contrário dos ideais dos artistas abstratos, de subtrair completamente o tema e a representação de suas obras, Bandeira reconhecia que parte dos temas reais limita-se a uma mera reinterpretação de tais temas, algo como um “novo realismo”.
Árvores em Azul tem traços do impressionismo onde a cor é a protagonista da tela. Ela adentra no psicológico de quem a vê. Então, é possível afirmar que Antônio Bandeira recebeu influência inclusive do Cubismo de Pablo Picasso e do movimento surrealista baseado na teoria da psicanálise, de Sigmund Freud e, conseqüentemente, no estudo do subconsciente.

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