Umas das imagens mais bonitas do filme. |
Por Eduardo Girão
Parábola em forma de imagens e diálogos. Foi assim que o diretor Petrus Cariry (O Grão – Brasil - 2007) interligou diferentes histórias de uma mesma família num drama filmado no Ceará. Dona Perpétua sente que está prestes a morrer e escolhe sabiamente a maneira que deseja se despedir do neto Zeca. Enquanto o filho Damião e a sogra Josefa estão mais preocupados com o casamento da filha Fátima, a avó aproveita para se aproximar do garoto e ensiná-lo alguns valores morais como lealdade, ética, amor. Na beira de um rio, ela conta ao neto uma lenda indiana que aprendeu com outras gerações: “Um rei e uma rainha perderam o único filho. Inconformados, eles quiseram trazê-lo de volta à vida...”
A fotografia revela muito mais que bucólicas paisagens do interior cearense, ela entra nos conflitos das personagens e leva os espectadores a se sentirem como se estivessem na própria cena vivenciando a ação. A maioria das filmagens se passa no quintal onde fica um barquinho a margem de um rio. Ali, as mulheres trabalham produzindo fios, tingindo-os, pondo-os nos pinos, entre outras atividades. É através da janela da pequena casa que elas se comunicam com o mundo. Damião é o único que consegue fugir um pouco da rotina, porque constantemente viaja tangendo bodes para serem vendidos na cidade. Mas, para a tristeza da família, parte do dinheiro ganho se perde com apostas e cachaça.
Petrus Cariry recebendo prêmio de Melhor Filme. |
Para tecer a trama, Petrus Cariry utilizou elementos repletos de simbolismos; por exemplo, a roleta da sorte gira como se fosse o ciclo da vida humana – viver, nascer, morrer. Ele também soube bem contextualizar cada personagem dando a importância que merece. As angústias de cada uma são transmitidas nas incertezas do futuro. Aliás, o roteiro não teve a pretensão de ser fiel a ordem natural da narrativa (introdução, desenvolvimento, clímax e desfecho), o que lhe possibilitou maior liberdade de criação. É bom lembrar que o desfecho dos conflitos fica a cargo de cada espectador.
Apesar da pouca idade, 33 anos, Petrus é considerado um dos diretores mais promissores da nova geração. Começou trabalhando como produtor e montador dos filmes e documentários do próprio pai Rosemberg Cariry. Parece ter aprendido bem a lição de casa. Dirigiu alguns curtas em 35 mm como A Ordem dos Penitentes (2002). O Grão é seu primeiro longa-metragem e já participou de mais de 15 festivais internacionais ganhando inclusive o de melhor filme em Viña Del Mar (Chile).
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