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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

OBRAS IMORTAIS DE DÜRER E REMBRANDT


DUTCH

Por Eduardo Girão
Um senhor vestido com uma túnica e uma espécie de turbante. Ele é a figura central e única do quadro. Está em primeiro plano, posicionado dos joelhos a cabeça. Sua vestimenta ajuda o artista a passar a ideia de volume, forma-se uma quase esfera (corpo e cabeça). A luz invade o rosto (detalhe do turbante ) e parte do ombro esquerdo e da mão esquerda. O resto do corpo permanece na penumbra. Um raio de luz também ajuda a definir o contorno (aura) por trás do homem. Deve ser um duque, pela pose e prestígio, como foi retratado.
Em pé, verticalmente, olhando para o espectador, com o corpo ligeiramente voltado para a direita e a cabeça para frente. Tudo tem um significado, uma razão de ser, todos os detalhes são pensados, estudados. A luz que incide no rosto pode significar momento de lucidez, transparência nas atitudes. A experiência e o caráter do artista demonstra que ele consegue retratar a essência (alma) do retratado (modelo). Consegue transmitir características físicas e de personalidade como vaidade, prestigio, orgulho.
Foco de tensão espacial é no rosto do personagem. A luz leva-nos a observar esse ponto com mais cuidado. A dramaticidade está na contraste do claro e escruto. O quadro me transmite solidão, apesar do poder exercido pela personagem.

REMBRANDT

Em 1642, o pintor Rembrandt entregou uma obra que pintara sob encomenda. Era a chamada "A Ronda Noturna" (que, hoje se sabe, não era ronda nem noturna). O cliente a rejeitou, acusando o artista de "não ter pintado seu retrato", de ter representado "o cenário de uma ópera bufa" e de ter cobrado um preço "muito alto". Nos debates que se seguiram, o pintor foi enfim acusado de "pintar só o que queria". Talvez por isso, Rembrandt tornou-se um dos mais importantes nomes da história da arte ocidental.
Embora de família humilde, Rembrandt van Rijn recebeu boa instrução. Freqüentou a Universidade de Leiden, mas em 1620 interrompeu os estudos para dedicar-se à pintura. No ano seguinte, foi aprender as técnicas de Jacob van Swanenburg no ateliê desse pintor.
Em 1623, transferiu-se para Amsterdã, tornando-se discípulo de Pieter Lastman. Dois anos depois, pintou seu primeiro quadro conhecido. Voltou para Leiden em 1627, permanecendo quatro anos. Ali, instalou seu primeiro ateliê, iniciando intensa atividade artística. Dessa época datam várias águas-fortes.
Em 1631, estabeleceu-se definitivamente em Amsterdã, obtendo rapidamente grande reconhecimento. No ano seguinte, pintou a famosa "Lição de Anatomia do Dr. Tulp", que lhe rendeu muitas encomendas de retratos e pinturas sacras.
Já famoso, Rembrandt casou em 1634 com Saskia Uylenburgh (com quem teria um filho, Titus). O casal foi morar numa casa confortável no bairro judeu de Amsterdã. O lugar tornou-se centro de reuniões sociais, abrigando um belo acervo de móveis e objetos antigos. Rembrandt passou a ter muitos alunos e muitos clientes ricos.
Saskia morreu em 1642. Três anos depois, Hendryckje Stoffels começou a trabalhar como babá de Titus e foi morar com Rembrandt, tornando-se sua companheira. Em 1654, Rembrandt teve com ela uma filha ilegítima, a quem deu o nome Cornelia. O fato causou grande escândalo.
Em 1656, após uma série de problemas nos negócios, Rembrandt teve a falência decretada. Dois anos depois, todos os seus bens foram vendidos judicialmente. Num desses leilões, arrematou-se o "Auto-Retrato de Barba Nascente", hoje no Museu de Arte de São Paulo (Masp).
Em 1660, Titus e Hendryckje abriram uma empresa para comercializar as obras do pintor, evitando o prosseguimento da falência. Em 1663, Rembrandt perdeu a companheira. Mesmo sozinho, continuou executando várias obras, entre elas paisagens e auto-retratos. Pintou também retratos de Titus; num deles (o quadro "São Mateus e o Anjo", que está no Museu do Louvre), o filho aparece como Mateus.
Titus morreu em 1668. Rembrandt pintou ainda um último "Auto-Retrato", uma composição dramática. Rembrandt van Rijn morreu aos 63 anos, na solidão e na miséria.

AUTORETRATO
Vejo um homem bem vestido, de cabelos longos e chapéu. Ele está ao lado de uma janela aberta que mostra uma paisagem, uma pequena vila. Este homem está olhando para o leitor (especador). A imagem dele preenche quase toda a tela (da cintura para cima). Está ligeiramente inclinada para a direita. O rosto direciona para o centro da janela, mas o olhar permanece direcionado para o espectador.
Há proporções quase perfeitas nesta obras, como se o pintor tivesse estudado cada detalhe. Por mais que seja um ser humano, ele é aqui retratado como figura cósmica, de tão perfeita que é. O contraste de claro e escuro é visível. A luz que entra pela janela percorre o rosto, peito e braço de Dürer, destacando esses pontos.
A época é clara: a realização do indivíduo, figura centralizada em primeiro plano, antropocentrismo. Nesta obra, o volume é trabalhado de forma veemente. As linhas suaves diagonais, horizontais e verticais interligadas no contexto espacial criam a ideia de volume.
A cor também é um outro aspecto importante, mas ainda não é o principal ponto. A A personagem é tridimensional, não é chapada na superfície. O pintor conhece a técnica e a utiliza trabalhando com linha, superfície volume e cor. A luz avança no espaço enquanto que o escuro recua. Há um contraste forte entre branco e preto. Com a luz, vemos o volume, os detalhes, as cores. O contraste claro e escruto gera conflito, mesmo sendo refletido pela luz que entra pela janela, Dürer está imerso na escuridão do seu quarto. Conflito tenso, mas necessário.

DÜRER

Albrecht Dürer viveu entre 1471 e 1528 e foi a figura central da renascença alemã. Estudou com o seu pai, um ourives húngaro que emigrou para a Alemanha, e em 1486 começou a pintar. Tornou-se aprendiz do pintor Michael Wolgumut com quem iniciou os seus trabalhos de gravura em madeira e cobre. Dürer inspirou-se nos trabalhos dos pintores dos dois maiores centros artísticos europeus (Itália e Holanda), mas sendo muito mais inovador. A partir de 1940 Dürer viajou bastante para estudar, passando nomeadamente por Itália e Antuérpia.
As suas jornadas permitiram-lhe fundir as tradições góticas do Norte com a utilização da perspectiva dos italianos.  Começa aqui o seu interesse pela matemática afirmando que "a nova arte deverá basear-se na ciência - em particular na matemática, como a mais exacta, lógica e impressionantemente construtiva das ciências".
A partir de certa altura, a arte de Dürer, mostra a influência de teorias matemáticas, tais como a da proporção. Relativamente à gravura «Adão e Eva», Dürer descreveu as intrincadas construções de régua e compasso que ele fez para construir as figuras. O artista, expressou as suas teorias da proporção no livro "The Four Books on Human Proportions", publicado em 1528. Mas não foi só a teoria da proporção que influenciou o seus trabalhos artísticos, também a sua mestria em perspectiva conquistada através do estudo da geometria foi de grande importância.
Comparação entre Dürer e Rembrandt
Existem mais semelhanças do que contrastes entre as duas obras. Elas trabalham a luminosidade, apesar de Dürer ter colocado profundidade na paisagem, Rembrandt também o fez com a luz por trás do personagem. Ficou claro que a ocupação do espaço é diferente nas duas obras como também na centralização das mesmas. Durer trabalha volume; Rembrandt, luz.

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