Páginas

domingo, 20 de abril de 2008

UMA VERDADE INCONVENIENTE



Depois da derrota em 2000 para o atual presidente dos Estados Unidos George W. Bush, Al Gore volta a mídia de uma forma pouco conhecida pelos eleitores norte americanos. Desta vez, o ex-candidato democrata assume o papel de protagonista em um documentário sobre o aquecimento global e as conseqüências do efeito estufa. Uma Verdade Inconveniente (Davis Guggenheim, USA, 2007) consegue alertar a sociedade sobre os problemas ambientais do planeta, mas falha ao expor uma infinidade de dados através de gráficos, mapas, simulações, diagramas e experimentos.
É verdade. As estatísticas que aparecem durante o filme são alarmantes. As calotas polares estão derretendo, o nível dos oceanos está subindo e o clima vem apresentando mudanças drásticas de comportamento. Tudo isso resulta em mais furacões, enchentes, secas, pragas de insetos e epidemias. A temperatura do planeta sofrerá um aumento de 6 graus em média até o final do século. A conseqüência, caos econômico e social. Enquanto discursa para uma platéia repleta de jovens, GORE mostra imagens da Patagônia, dos Alpes, da Antártida e da Amazônia, entre outros locais, para revelar o impacto ambiental produzido pelo homem durante anos. As cenas impressionam como a foto do Monte Kilimanjaro 20 anos antes com neve e hoje, praticamente sem vida; e o desenho animado de um urso polar tentando sobreviver.
A atuação do ex-vice-presidente é digna de um popstar de Hollywood. Fica à vontade diante das câmeras para falar sobre o assunto introduzido a ele quando ainda era estudante em Harvard. Mas, o excesso de informações – inclusive algumas defasadas - cedidas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) entedia o documentário, desumaniza e faz com que perca uma das grandes sacadas do cinema: a criatividade. A figura do líder carismático é mantida no filme. Al GORE é retratado pelo diretor Davis Guggenheim, famoso pela série televisiva 24 Horas, como o salvador da terra. Em uma das cenas, um sapo é colocado dentro de um recipiente com água fervente e salta depressa. Em outra experiência, o mesmo anfíbio é exposto dessa vez em um recipiente com água morna aquecida lentamente. Ele fica estático até ser salvo pela mão do “detentor da verdade” GORE.
GUGGENHEIM bem que tentou deixar a película menos didática. Ele intercalou na narrativa fatos que marcaram a vida do ativista como o acidente de carro que quase tirou a vida de seu filho; a morte de sua irmã com câncer de pulmão - levando em consideração que sua família tinha uma plantação de tabaco; e a derrota na campanha presidencial contra Bush. Os episódios relatados servem como exemplos de mudanças de comportamento e são constantemente comparados ao tema. GORE revela que a morte da irmã fez com que o pai tomasse uma atitude ecologicamente correta, parasse de plantar tabaco. A mensagem do documentário ‘faça você mesmo à diferença’ não agradou a maioria dos ambientalistas. Eles lembram que o aquecimento global não é só um problema moral, mas político.
Com um discurso unilateral, o filme deixa de lado a opinião de povos e organizações que há muito discutem essa questão. Mas, mesmo com todos os clichês, Uma Verdade Inconveniente consegue atingir o objetivo: sensibilizar a opinião pública. Não é à toa que se tornou um blockbuster, visto por milhões de espectadores em todo o mundo. Em 2007, conseguiu levar o Oscar de melhor documentário. No mesmo ano, AL GORE recebeu também o prêmio Nobel da Paz, junto com o IPCC da ONU “pelos seus esforços na construção e disseminação de maior conhecimento sobre as alterações climáticas induzidas pelo homem e por lançar as bases necessárias para inverter tais alterações”.
Coincidência ou não, depois do lançamento do filme, a Austrália aderiu à consciência verde. Algumas multinacionais de olho no novo mercado também mudaram de postura. O presidente da empresa Virgin, Richard Branson lançou uma competição que dará 25 milhões de dólares para o cientista que apresentar a melhor proposta para diminuir as quantidades de dióxido de carbono na atmosfera. Estrelas do cinema como Julia Roberts, George Clooney, Angelina Jolie e Leonardo DiCaprio ficaram mais empenhadas na divulgação do ideal. A grande surpresa aconteceu mesmo na última reunião do G-8. O ex-primeiro ministro inglês Tony Blair, famoso aliado americano, reconheceu que “o principal problema da humanidade hoje já não é mais o terrorismo islâmico, nem Bin Laden e sua Al Qaeda, mas o efeito estufa”. Porém, nada disso faz sentido se os Estados Unidos não assinarem o Protocolo de Quioto que visa o combate à emissão de gazes estufa. Quem sabe a mensagem do filme não consiga mudar essa realidade?

Nenhum comentário:

Postar um comentário